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Cavar fundo para pensar em grande: como usar a exploração mineira para desbloquear o potencial da Mauritânia (Por Malinne Blomberg)
O apoio financeiro do Banco é acompanhado de um forte empenho no cumprimento das normas ambientais e sociais do país
O Banco está a prestar assistência técnica para desenvolver planos para o hidrogénio e atrair investimentos do setor privado
Por Malinne Blomberg
A Mauritânia está a viver tempos emocionantes. Esta nação que liga a África Ocidental ao Norte de África está a transformar a sua economia através da exploração mineira, do hidrogénio verde e do gás natural. Durante a campanha para as eleições presidenciais, que se realizaram a 29 de junho, o Presidente Ould Ghazouani anunciou que, se fosse reeleito, iria aumentar a escala da indústria mineira.
Eis a visão do Banco Africano de Desenvolvimento sobre o setor e o que ele significa para a economia mauritana.
Um começo prometedor
A Mauritânia é um tesouro de riquezas minerais inexploradas. Com vários milhares de milhões de toneladas de depósitos de minério de ferro, o país é o segundo maior produtor deste importante mineral em África. Só em 2022, a Mauritânia produziu 13 milhões de toneladas de minério de ferro, graças a reformas proativas e a políticas mineiras atrativas, de acordo com dados da Iniciativa de Transparência das Indústrias Extrativas.
E sabem que mais? Fontes do setor mineiro dizem que é muito provável duplicar este valor até 2030!
Quão central é a exploração mineira na economia da Mauritânia?
De acordo com o relatório sobre as Perspetivas Económicas Africanas de 2024 (http://apo-opa.co/3Wf1Y32), do Banco Africano de Desenvolvimento, o futuro da economia da Mauritânia (http://apo-opa.co/3LiADqq) parece brilhante, com uma previsão de crescimento real do PIB de 4,2% em 2024 e 5,5% em 2025 – o que está acima das previsões para o crescimento africano e global.
Este crescimento acima da média deve-se em grande parte às atividades do sector mineiro.
O ano passado – 2023 – viu o setor fazer muitas manchetes.
A produção da empresa mineira de ouro Tasiast Mauritanie Limited S.A. disparou para 620,8 mil onças e a SNIM (Sociedade nacional Industrial e Mineira da Mauritânia) (http://apo-opa.co/4bwQyMd) atingiu um novo nível recorde de produção de 14,01 milhões de toneladas de minério de ferro.
Estes números mostram que as indústrias extrativas não são apenas pilares da economia nacional: são os seus motores de crescimento mais dinâmicos.
Globalmente, a contribuição do setor mineiro para o PIB da Mauritânia aumentou de 18%, em 2021, para 24%, em 2022. Este crescimento foi impulsionado pelo aumento da extração de minérios metálicos, em particular o ouro. O setor também encheu os cofres do país, contribuindo com cerca de 30% das receitas em 2022. A SNIM liderou o setor, seguida da Tasiast Mauritanie Limited S.A. e da Mauritanian Copper Mines.
Evolução do setor e planos para o futuro
A nível mundial, o panorama da produção de aço está a evoluir, com uma mudança para processos menos intensivos em carbono e mais eficientes. Isto significa uma maior procura de minérios de alta qualidade e de pelotas de ferro reduzido diretamente (DRI), que requerem menos energia e produzem menos resíduos. A Mauritânia, em particular a SNIM, está preparada para capitalizar esta tendência.
Durante a próxima década, a Mauritânia planeia duplicar a sua capacidade de produção de minério de ferro para mais de 45 milhões de toneladas por ano. Este objetivo ambicioso implica investimentos significativos em infraestruturas e na logística. A tónica é colocada na produção de minério de ferro de alta qualidade e no desenvolvimento de pelotas de minério de ferro, em consonância com a mudança global para processos de produção de aço mais limpos.
Os planos a médio e longo prazo incluem também a passagem para a cadeia de valor da produção de aço verde, inicialmente pelotas de aço. No entanto, a eletricidade é a espinha dorsal destas ambições industriais e, paralelamente, a Mauritânia também está de olho no mercado do hidrogénio verde, com o objetivo de se tornar uma plataforma para esta fonte de energia limpa. A sinergia entre a exploração mineira, o hidrogénio verde e o desenvolvimento de campos de gás exigirá infraestruturas substanciais, beneficiando não só o setor mineiro, mas também a economia em geral.
O papel do Banco Africano de Desenvolvimento
O Banco Africano de Desenvolvimento tem sido um parceiro fundamental no percurso da Mauritânia. O Banco investiu fortemente nas infraestruturas do SNIM, incluindo um empréstimo de 46,9 milhões de dólares para alargar o canal de acesso ao porto mineiro de Nouadhibou. Este projeto impulsionou as exportações de ferro e contribuiu para as receitas do Estado. O Banco está também a contribuir para enfrentar o desafio energético através de iniciativas como o projeto Desert-to-Power, que promove a energia solar e melhora o acesso à eletricidade. O apoio financeiro do Banco é acompanhado de um forte empenho no cumprimento das normas ambientais e sociais do país. Isto garante que os benefícios da exploração mineira sejam partilhados de forma ampla e sustentável.
O hidrogénio verde é outra fronteira interessante. O Banco está a prestar assistência técnica para desenvolver planos para o hidrogénio e atrair investimentos do setor privado. Esta iniciativa alinha-se perfeitamente com o objetivo da Mauritânia de produzir aço verde, acrescentando valor ao seu setor mineiro.
Numa visita ao país em 2022 (http://apo-opa.co/3Lf3pbd), o Presidente do Banco, Dr. Akinwumi Adesina, analisou com os dirigentes nacionais a cooperação global entre as duas partes.
A cooperação centrou-se no reforço da integração das cadeias de valor agrícolas, no apoio aos jovens empresários, no reforço da gestão das finanças públicas, e na garantia da segurança da água face às alterações climáticas, para além do reforço das capacidades de produção e transformação do minério de ferro, a fim de aumentar o valor acrescentado dos bens exportáveis.
Hidrogénio verde: O fator que vai virar o jogo
Por falar em hidrogénio verde, a Mauritânia está a dar passos ousados. O projeto Aman, um empreendimento de 40 mil milhões de dólares, visa produzir anualmente 1,7 milhões de toneladas de hidrogénio verde e 10 milhões de toneladas de amoníaco verde. Só este projeto poderá aumentar o PIB da Mauritânia em 50 a 60% até 2035.
O projeto Nour, outra iniciativa de hidrogénio verde, tem potencial para ser um dos maiores a nível mundial até 2030. Entretanto, a SNIM e a ArcelorMittal estão a explorar a produção conjunta de aço verde, o que posicionaria a Mauritânia como líder na produção de aço sustentável.
Para além da exploração mineira: outros projetos extrativos
As reservas de gás natural da Mauritânia também são impressionantes. O projeto de gás Grand Tortue Ahmeyim deverá iniciar a sua produção até ao final de 2024 e o campo de gás de Banda BirAllah virá logo a seguir. A extração de urânio também está no horizonte, com o projeto Tiris a arrancar em 2026.
Enfrentar riscos e desafios
A transparência é a chave para o sucesso da Mauritânia. O envolvimento da SNIM na Iniciativa de Transparência das Indústrias Extrativas demonstra que os benefícios da exploração mineira são partilhados de forma equitativa. O Grupo Banco Africano de Desenvolvimento apoia a Mauritânia na abordagem dos desafios de desenvolvimento, desde a conformidade ambiental ao reforço do capital humano e ao desenvolvimento de competências.
A segurança na volátil região do Sahel é crucial para o crescimento sustentado. A Mauritânia conseguiu manter-se estável, um fator essencial para atrair investimentos e promover um crescimento inclusivo.
Com um grande poder vem uma grande responsabilidade. A forte dependência das exportações mineiras torna a economia vulnerável às flutuações dos preços a nível mundial, sublinhando a necessidade de diversificar também a economia. Os benefícios de um setor mineiro de maior dimensão terão de ser canalizados para a economia nacional, para os setores sociais e para a criação de infraestruturas, e esse será o tema de outro blogue.
Conclusão: Um futuro brilhante
Com os seus ricos recursos naturais e investimentos estratégicos, a Mauritânia está preparada para dar um salto em frente. Com boas políticas e boa governação, o país pode alcançar uma verdadeira transformação, aproveitando a sua riqueza natural para construir um futuro próspero e sustentável.
Sobre a autora
Malinne Blomberg é a Diretora-geral Adjunta do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento para o Norte de África e representante nacional do Banco na Tunísia, para além das suas atuais funções semelhantes na Líbia e Mauritânia.
Distribuído pelo Grupo APO para African Development Bank Group (AfDB).